O Atleta

P. Todos os outros candidatos têm um passado anti-fascista. Como justifica o seu silêncio político durante o Estado Novo?
CS. Contrariamente a alguns candidatos, tenho uma vida de trabalho. Eu e o major Tomé [da UDP], os únicos que fomos vítimas do fascismo, fomos mandados para Moçambique, quando eu ainda estava no 4º ano, e não permitiram que tão-pouco que eu acabasse os meus estudos. Fui mandado para África, os portugueses conhecem muito bem o meu passado. Não nasci em casa de abundância como outros. Enquanto estudante, tive de trabalhar e trabalhar bem. Portanto, não tive uma vida fácil. Mas essa experiência de vida foi muito útil. Ainda por cima, como era atleta dos 110 metros barreiras, a polícia tinha dificuldade em apanhar-me, pois corria mais rapidamente que os agentes. Quando entravam em Económicas, normalmente conseguia escapar-me às perseguições...


P. Fugia quando a PIDE ia à faculdade?
CS. Fiz parte das greves todas de 1962, muitas das invasões foram na minha escola, estava lá com os meus colegas dirigentes da associação de estudantes, e o facto de saltar barreiras muito bem permitiu safar-me mais facilmente que outros. Isso é questão de falta de argumentos, ou não conhecem o meu passado ou andam noutro mundo. Ou então não sabem o que é o trabalho, o que é a vida, o que é nascer em Boliqueime, tomar o comboio às seis da manhã para conseguir estudar em Faro e só regressar às seis e um quarto da tarde. Quem diz isso é gente que não sabe o que é a vida.

"entrevista de Cavaco Silva à revista Sábado"

1 bitaite(s) sobre “O Atleta”

  1. # Anonymous Anónimo

    Grande entrevista.
    O Sr. Prof. é um intelecto maior da nossa praça, cada vez que fala sem rede, espalha-se.
    Julgo que devia ser proposto um memorial às vítimas do fascismo, à reistência dos 110 metros barreiras.
    Aliás, em matéria de resistência anti-fascista só Alegre vence Cavaco e Tomé.
    Hoje, está provado que os comunistas e outros democratas presos antes do 25 de Abril eram fracos atletas, gente sem condições para a alta competição, que eram apanhados pelo carro vassoura do regime (acho que era de marca PIDE).
    Sabe-se até que o PCP mandou muitos dos seus dirigentes para os Países de Leste, não por questões político ideológicas, mas porque existiam excelentes selecções olímpicas de atletismo.
    Pacheco Pereira nos seus estudos sobre o Comunismo e a resistência ao fascismo chega a falar em casos de dopping em que o Comité Central do PCP obrigava os seus funcionários e militantes a tomarem substâncias dopantes.  

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